Diz. Diz-me. Porque queremos tudo? Porque deixamos que o vento nos transporte? Porque acreditamos na partida como no cais-de-espera? Porque nos deixamos embalar por canções de embalar? E por postais de ilhas selvagens sem Robinson Crusoe? E por contos de fadas boas, fotografias de actores mortos e bonitos, letras estúpidas de boleros sábios, livros sagrados, bares esconsos, sorrisos nocturnos? Porque esperamos nós sempre? Diz. Diz-me. Diz-me ao ouvido. Inventa.
"Há-de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome de homem mereça. mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar. (...) Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada?" JS
Ter de ir. Sem saber para onde. Agarrar nas sapatilhas e calçá-las com a certeza de que o dia é feito de nada. E esperar o fumo de escape da carrinha que penetra numa bola de sabão, quando imaginamos e não morremos ali. Depois, o encontro com a velha que não sorri, inconsciente e despida. E o querer estar ali, dentro dela, para saber definitivamente de que é feita afinal a vida.
Desculpa-me o atraso. Perdi-me pelo caminho. Não sabia qual era. Desculpa ter nascido longe e só ter acordado perto. Desculpa ter perdido a chave de casa. E os sapatos. Desculpa. Mas, por favor, abre-me a porta: cheguei.
Daquele dia quente. Daquele dia das mulheres à janela aos berros. E depois da carrinha aos solavancos, pela estrada que eu não conhecia. E nós todos iludidos. Terá sido mesmo assim, tal e qual eu me recordo?
Sei como me chamo. Às vezes sou o "o", outras apenas o "o". Trago nos olhos os cabelos pretos com que me baptizaram. E quando me perguntam acerca do porquê da tristeza, respondo que não sei porque ainda não tive tempo para pensar nisso. Estou muito ocupado a viver a vida agora. Desculpem lá.
Não pode ser o Jeff Buckley ressuscitado. A não ser que o céu seja assim tão bom que mude tanto as pessoas. Mas é uma voz que está a revolucionar o meu dia-a-dia. Isso é, de certeza. Thanks WP ;) !
É preciso imaginar. É preciso abrir um buraco na camada mais profunda da epiderme e depositar lá as palavras que não saem da boca e que embrutecem nos lábios estáticos. É preciso ter voz e saber usar o grito. É preciso imaginar. É preciso não morrer.
"Tentas saltar a lacuna, retomar a história agarrando-te ao pedaço de prosa que vem a seguir, rasgado como o bordo das folhas separadas pelo corta-papel. Não reencontras nada:" IC