nuvem etiquetada
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- lugar ao acaso de palavras que não aconteceram e de 'átomos ardentes de imperecível pensamento'-
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o azul que eu queria era o azul de lado nenhum. o azul parecido com o céu mas em que o céu não está lá. o azul da cor impossível que fica por ver quando olhamos sem usar os olhos e o azul dos olhos que nunca vi. o azul com que acordo na janela na manhã perfeita é o azul dos sonhos que não têm cor por não me lembrar a cor coisa alguma do sonho, mas a certeza do azul tenho de ter estado dentro do sonho e o ter sentido, ao azul, como se fora a última das cores, a última das ilusões antes dos olhos abrirem e para sempre ficarem a procurar o azul último dos sonhos. o azul que eu queria ver era o azul que eu não tenho por não se poder ter este azul como se podem ter as outras cores, por não ser uma cor de ter mas uma cor de ver por dentro dos olhos. o azul de ter é outro azul com cor que é parecido com muitos azuis e até com o azul da terra vista do espaço. mas não é esse o meu azul que não é meu, só o chamo meu porque dele falo e me dói falar porque deste azul não se fala nunca por não ser o azul uma palavra. este azul entre as letras que vejo com os olhos que não são azuis e que por isso conseguem ver o azul entre as palavras, está escondido dentro da folha branca de papel e é o azul de outro céu entre os dedos que escrevem, tendo assim ficado como o azul a cor infinita da folha de papel que, nas outra cores, é branca. o azul que eu queria era o azul de quando as noites são da meia-noite e não têm azul outro a não ser o que fica do dia e o da noite misturados. parece depois o azul o escuro do céu mas é nessa meia-noite a mistura dos dois azuis que são o fundo em forma de cor de alguns sonhos antes da madrugada. a madrugada também de azul. o azul que não existe no céu, só existe na madrugada, nas coisas a acontecer como no princípio sempre. no princípio era o azul que não é a cor.
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deus pequeno no teu lugar, a erma tarde para sempre inacabada e o teu silêncio em mim. os olhos dos outros em todo o lado, o dia último que te procurava, o teu silêncio outra vez, nós no silêncio do mundo. tu, a solidão ao mesmo tempo que tu, debruçando-te os olhos na tarde, e quase seres como os outros, como tu, como as crianças outras todas, a criança. tu, a obra de ti, os astros maiores que aqueles, o sonho quase verdade desses astros, a alquimia de ti nesse espaço profundo que é aqui e em todo o lado, o mito dentro de ti, as tuas mãos, a tua suprema criação. agora, então depois, a inevitável deserção na descoberta de um lugar possível que não queres, não, das crianças o espaço, as outras crianças que não tu. criança, criança, deus de ti serás, e depois de nós, quase amantes, quase o céu ainda que habitas nesse pôr-do-sol que te viu à solta nos olhos dos outros, assim seremos os dois sentados, a restar à beira de um segundo em que não mais serás tu por causa dos outros, nem os outros os outros, nem ninguém mais ninguém, só tu, criança de ti, deus de ti e dos teus astros. de mim também. deus pequeno, escrevo-te de agora e aqui o silêncio é o de nunca mais haver ruídos, e é tão mais perfeito que os outros, e é esse sonho quase impedido nos teus olhos, que os meus viram nos teus, que vejo por fim. criança, escrevo-te agora e não há mais nada. só estas palavras depois a escrever a tua história de tudo teres criado e que é a de ninguém porque é a de todos, minha e tua também, nossa de não ser, e dos teus astros que criaste e que são os astros de todos e te observam na noite de longe a jazer pendurados no profundo, enquanto tu dormes e eu escrevo. a ficção de então sermos, escrevo.
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(IV)
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