breve história da nudez
vesti as tuas últimas roupas por cima do meu corpo para então me sentir nu, apenas vagamente despido, por dentro só, nesse embaraço de não ter nada com que me tapar. no entanto encoberto, demasiado, quase sem mim, escondido debaixo do tecto sem mais tecto nenhum que em cima me imitasse o céu, principiei a fugir para outro lugar distante da minha nudez, a nudez do meu próprio corpo vestido de ti, no desconcerto do corpo sem o corpo, à mercê de si próprio, excessivo e ávido de não ser mais nada a não ser isso mesmo, corpo desmesurado. assim precipitando-se para a Génese, teu e meu em contratempo, o corpo esqueceu-se depois da nudez que tão somente o destapava por estar debaixo do tecto sem céu em ti. na espontânea aparição do nascimento que era o corpo a aperceber-se de si, algures tu ao mesmo tempo que eu na minha nudez feita de ti, o céu seria por fim o conhecimento acidental por mim do corpo sem mim, portanto eu próprio a regressar condenado ao meu lugar sem céu, nu.*
*-Texto originalmente publicado em Minguante #11
Etiquetas: ficções depois da génese
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