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segunda-feira, julho 14, 2008

quarto com vista para dentro (epifania do livro)

era uma vez. era uma vez um quarto. um quarto de rostos esquecidos feito, com janelas para lado nenhum. um quarto onde o vento entrava pelas janelas e o sopro nas páginas abertas dava em qualquer palavra que enfim era o parágrafo do dia que habitava o quarto. o parágrafo era o das horas que não tinham minutos, do sol que não cabia na janela e por isso não temia a sombra azul que é como quem diz ser como esquecido, porque as palavras davam na mesma para frase sem o sol, a frase que, nada dizendo porque assim reduzida a si, às palavras todas juntas, na folha quase papel porque apenas papel e o vazio, era feita de palavras que não tinham mais lado nenhum a não ser aquela frase, aquele parágrafo, aquela folha, aquele livro, aquele quarto com vista para lado nenhum a não ser para dentro de si mesmo e por isso, para todo o lado sem nenhum lado. no parágrafo do quarto portanto, as palavras eram a janela que dava para o livro, no quarto à beira do fundo da casa, no fundo da noite, nas palavras sem frase nenhuma, só as palavras. porque só as palavras num quarto plantado no meio do verão, num lugar onde durante o dia só chegava a lua e durante a noite só chegavam as palavras que eram o sol em forma de livro aberto. porque só as palavras no quarto por fim sem parágrafos que era uma imagem de traços em arco-íris sem palavras, no fim do livro, na última página, que trazia na mão a criança que morreu depois, muitos parágrafos depois sem palavras dentro, com o livro dentro dos dedos, os dedos dentro do peito e o sol e a lua dentro dos cabelos da criança morta deitada sobre o chão do quarto dentro da casa no fundo do livro sem palavras nem mais parágrafos a seguir.


Texto originalmente publicado aqui.

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