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sexta-feira, agosto 22, 2008

azul

o azul que eu queria era o azul de lado nenhum. o azul parecido com o céu mas em que o céu não está lá. o azul da cor impossível que fica por ver quando olhamos sem usar os olhos e o azul dos olhos que nunca vi. o azul com que acordo na janela na manhã perfeita é o azul dos sonhos que não têm cor por não me lembrar a cor coisa alguma do sonho, mas a certeza do azul tenho de ter estado dentro do sonho e o ter sentido, ao azul, como se fora a última das cores, a última das ilusões antes dos olhos abrirem e para sempre ficarem a procurar o azul último dos sonhos. o azul que eu queria ver era o azul que eu não tenho por não se poder ter este azul como se podem ter as outras cores, por não ser uma cor de ter mas uma cor de ver por dentro dos olhos. o azul de ter é outro azul com cor que é parecido com muitos azuis e até com o azul da terra vista do espaço. mas não é esse o meu azul que não é meu, só o chamo meu porque dele falo e me dói falar porque deste azul não se fala nunca por não ser o azul uma palavra. este azul entre as letras que vejo com os olhos que não são azuis e que por isso conseguem ver o azul entre as palavras, está escondido dentro da folha branca de papel e é o azul de outro céu entre os dedos que escrevem, tendo assim ficado como o azul a cor infinita da folha de papel que, nas outra cores, é branca. o azul que eu queria era o azul de quando as noites são da meia-noite e não têm azul outro a não ser o que fica do dia e o da noite misturados. parece depois o azul o escuro do céu mas é nessa meia-noite a mistura dos dois azuis que são o fundo em forma de cor de alguns sonhos antes da madrugada. a madrugada também de azul. o azul que não existe no céu, só existe na madrugada, nas coisas a acontecer como no princípio sempre. no princípio era o azul que não é a cor.

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