domingo, fevereiro 22, 2009
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
terça-feira, fevereiro 17, 2009
C.
se eu visse o que vi, vi isto, com os olhos que sempre ponho e de onde acordo há uma janela que me deixa olhar os olhos dos outros e o que vêem é o que em mim vejo dos outros. tenho de ti, C., este silêncio de noite, ao pé do que têm os outros de ti. C. que podia ser só C., a cidade o lugar em nós primeiro que depois de nascermos é onde o impossível tornando-se possível prossegue como gente sem nome, desse discurso do que então não poderia ser sem ele. podemos nós dentro dos olhos procurar o que sempre quisemos ver e que viram os outros por nós porque viram ver e desde então souberam como era o modo de olhar as coisas de quem vê os outros, os outros que é o de todos às vezes. C. obrigada a ti que me viste e de onde me viste era onde eu estava e soubeste o meu lugar e desse lugar de onde me viste eu soube de mim, o que é importante tanto sabermos onde estamos, não tanto de onde somos para sabermos depois para onde temos que ir, o nosso caminho. soubera dele o lugar dos meus olhos ser o lugar dos olhos do que viste quando me viste quando não me estavas a ver. e viste o que eu vi, como se os olhos não fossem nada, só os olhos de verem o que não podem ver. se vissem, veriam o que os outros vêem de nós nos lugares para onde olhamos quando vemos.
Etiquetas: dos fundamentos
domingo, fevereiro 15, 2009
onde temos o amor entre as mãos
amor. tenho que te escrever isto amor. tenho as palavras entre as mãos e onde quer que estejas as palavras estão de mim para ti. desculpa amor, escrever-te. o teu corpo que tenho entre as mãos não é nada se o que tenho são as palavras dele, tens, que onde eu estou amor, é como se fosse o mundo inteiro, um só corpo todo ele as palavras, amor. amor, que estamos para onde estamos a ir, que o mundo inteiro nos separa e espera, amor, e as palavras então que tenho entre as mãos para onde as tenho que ir levar, amor. amor, leva-as contigo para onde vais que eu não as levo para onde eu for para que possas ficar com elas. amor. não sabemos o que temos entre as mãos, as minhas e as tuas se não as palavras para nos ajudarem a dizer o que temos. amor, que morram as palavras antes de nós. e que não sobre nenhuma que diga o que as nossas mãos escrevem.
Etiquetas: ficções
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
'era um instante que pedia para ser vivo'
que o que não temos é o que sempre teremos
sem o que de uma possibilidade do que seremos, somos. ansioso delíquio de corpo, implícita exigência, o mundo, impolutos e silenciosamente incursos, dentro dele mais do que em todo o lado mais algum. que o que não temos será sempre o que queremos ter e o que tivemos, mas o que temos é o que temos para deixarmos de ter. o mundo de termos, entre o ter que tivemos e o ter que temos agora, no que tivemos o que somos, o que somos, assombro e suposição do que em nós espantou. tudo, do que em nós nesse lugar sempre esteve onde quem nos viu, quem nos observou de longe com o frio e a fome e o entendimento, de longe também, indiferentes no que não tínhamos que fosse de era apenas o não tínhamos para lhe dar porque o que demos foi sempre o que demos por estar em sendo, acontecendo. tenho que escrever para saber que fomos isto tudo. que lá fora um homem parado espera por nós, deitado, dentro do tempo que é o que tem, um tempo sendo o que não temos de nós que é do que foi. escrevo para que eu saiba, e saibam vocês também, que há um homem parado, ainda, desde esse dia, à nossa espera sempre esperando até que o tempo morra, de nós de não o sermos, que enquanto formos, sejamos, para que não espere a morte mais que a vida de quem a tem. que a tenhamos nós também, à vida também antes da morte.*
* - palavras que escrevo aos que comigo se cruzaram nesse caminho em que nos cruzámos com o caminho daquele homem sem mundo. que seguimos e ele não, que ainda sempre ali nos espera, que um dia regressemos sempre. no dia em que regressei, estava sozinha. escrevi para que fosse menor a solidão e para que soubesse ele que onde estivermos, estamos, e a todos os outros sem-abrigo todos os que continuam a dormir lá atrás, nas q., onde almoçámos a vida inteira.
título - C.L.
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