da culpa e as palavras
* - texto originalmente publicado em Minguante #10.
Etiquetas: o desígnio
- lugar ao acaso de palavras que não aconteceram e de 'átomos ardentes de imperecível pensamento'-
Etiquetas: o desígnio
A fogueira imaginária de outrora era o derradeiro feitiço de uma noite dissolvida no instante do céu, carvoeiro, a advir nas faces de duas sombras. Uma noite interdita, ausente, imperfeita na sua escuridão de se saber densa. Duas sombras que eram almirantes de uma fábula sem árctico, duas almas semi-perfeitas que percorriam caminhos sempre os mesmos, a mesma hora, sempre. Nas paredes, outras, viradas para dentro, ilusórias portadas e casas sem fundo à beira do Lugar, perguntava-se quem passava e o que seriam nesse ritual de cumprir uma mesma hora num mesmo lugar como se não houvera outro lugar onde estar no fim de tudo, que é como quem diz, no fim. Revolviam-se os diálogos, em contratempo, infinitos de não se saberem um do outro. Depois, o silêncio tomou o lugar do mundo.
Etiquetas: o desígnio
Não nevava porque ali nunca nevava. Só chovia. O esforço de se entreter para além da passagem do tempo tinha que ser uma memória fugidia de algo que houvera existido há anos, não sabia quantos porque não era importante saber. Só era importante manter essas imagens que deslizavam como o dia e a noite à beira de nunca mais se repetirem. Mas repetiam-se sempre, todos os dias e todas as noites. Até nunca mais nessas memórias brancas de tão invisíveis. E o nunca mais era um ciclo perfeito, impenetrável na perfeição de ter sido definido pela imperfeição. E a memória última desse ciclo era o majestoso e sempre perfeito silêncio do absurdo.
Etiquetas: ficções depois da génese