da culpa e as palavras
O teu silêncio que é um fulgor. Não as palavras que te são a excessiva lucidez das sentenças, e que são aquém de quando não dizes nada. Mil vezes o diálogo da inexistência, mais perverso e impaciente que a ficção de dizer contingente: a vertigem do imaginado céu. Não. Não as tuas loucas frases ou o desmerecimento da inconclusiva manhã dos braços ou as palavras intensamente desertas. Mil vezes o segredo das circunstâncias, mortas em suspenso no íntimo do lugar exíguo, o teu silêncio. A desconjuntada multidão de palavras que imperdoáveis te adivinham, não. Não, se assim miserável te conténs e assomas objecto, mera proibição. Nada, dizes do afronto, e é desmedida a desordem, do que és finalmente, pelas palavras. As palavras que te excedem no imprevisto e não no limite. Não as palavras. Que dessas palavras serão de ti o som que nunca ouviste de ti mesmo. Nem a amplitude da possibilidade desinquieta de ti sem as palavras que se desinteressam, a tua improvisação. E as palavras, desdém de um labirinto descontínuo que a comunicação em si, eis através, vaticina. Sempre, não as palavras e o teu silêncio que é um fulgor.*
* - texto originalmente publicado em Minguante #10.
Etiquetas: o desígnio
2 Comments:
Reconfortante, ainda que fugaz, a quietude no silêncio.
Refúgio que é a própria quietude, espécie de palavras sem ruído.
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