vaga percepção do silêncio
Não nevava porque ali nunca nevava. Só chovia. O esforço de se entreter para além da passagem do tempo tinha que ser uma memória fugidia de algo que houvera existido há anos, não sabia quantos porque não era importante saber. Só era importante manter essas imagens que deslizavam como o dia e a noite à beira de nunca mais se repetirem. Mas repetiam-se sempre, todos os dias e todas as noites. Até nunca mais nessas memórias brancas de tão invisíveis. E o nunca mais era um ciclo perfeito, impenetrável na perfeição de ter sido definido pela imperfeição. E a memória última desse ciclo era o majestoso e sempre perfeito silêncio do absurdo.
Etiquetas: ficções depois da génese
5 Comments:
Já te disse que gosto como escreves, e gosto, parece-me, no entanto, que te falta verdadeiro tema para escrever, talvez ... (?)
O tema é o implícito. Neste caso, existe um tema, repito, implícito, não explícito. No entanto, a ausência de tema também é tema. Não é, no entanto, o caso.
O tema é o vício, a grandeza da palavra, o som da métrica, o ar que pelas frases se respira e a dor que cresce na sua ausência.
É belo. Complexo de decifrar ao início, Okran. I´ll give you that. Mas com o tempo, meu caro. Com o tempo.
Pessoalmente gostei muito deste texto, assim como de outros que estão neste blog. Se não te importares gostava de colocar o link do teu blog no meu.
Parabéns escreves muito (mesmo muito!) bem :)
Beatriz
Caríssima Beatriz,
Obrigada pela visita e pelo comentário simpático. Claro que podes colocar :) Farei o mesmo com o teu. Se não te importares, claro. Um abraço.
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