quinta-feira, setembro 29, 2005
segunda-feira, setembro 26, 2005
Rodin a tempo inteiro
Em Paris, no Museu Rodin, as esculturas do artista que se encontram no jardim que emoldura a bela casa senhorial que abriga algumas das mais importantes e emblemáticas obras do escultor francês, são deixadas à mercê de quem passa. Pior: nada, mas mesmo nada, pode fazer crer que aquelas esculturas foram alguma vez limpas, vigiadas ou objecto de qualquer trabalho de conservação e restauro. O pó, os excrementos dos pássaros, os rabiscos dos amantes, as teias de aranha, testemunham dramaticamente o desmazelo a que são votadas. Lá dentro, no museu em si (assim o parecem fazer crer), cada uma das peças expostas sem excepção, é acompanhada por um letreiro que chama a atenção para o facto das obras se desgastarem muito facilmente com o tempo, e de o simples passar leve de uma mão contribuir em larga escala para que esse desgaste se verifique efectivamente. Para quem começa por visitar os jardins e para os verdadeiros amantes de Rodin, especificamente, e das artes e da cultura, em geral, a primeira impressão é a de estranheza, perplexidade primeiro, tristeza, revolta e repulsa depois. No regresso a Portugal, uma certeza: a negligência tem, afinal, várias nacionalidades, credos, nomes e feitios.
domingo, setembro 25, 2005
Horácio Marques e Mário Ventura
-"Estamos numa fase de transformações muito grandes e confusas. O que se desejaria neste momento é que a literatura fosse particularmente lúcida e esclarecesse o semelhante, o leitor, e o orientasse no meio da confusão que reina. Mas é muito difícil isso acontecer. Isso será a ambição pessoal de qualquer escritor, mas penso que dificilmente o consegue. "
Fernando Taborda (tributo)
Em Galileu Galilei, Brecht eleva a ciência ao estatuto de suprema bússola que explora a intimidade escatológica e contraditória do ser humano. Impressionante e surpreendente é, no entanto, a profundidade com que a interpretação de Fernando Taborda esmaga a peça, estilhaçando-a em fracções de imagens, gestos e missivas. Aos poucos, é o actor que se afirma como o todo que deveria estruturar a peça, porque apaixonado, divertido, perspicaz e íntegro na sua entrega ao papel. Verdadeiro, ele próprio. Uma referência, um ícone incontornável do teatro português.
quinta-feira, setembro 22, 2005
quarta-feira, setembro 07, 2005
segunda-feira, setembro 05, 2005
(Takk)
1- São dois palcos que se derramam pelos olhos dentro. Um morre, continuamente. O outro, deixou de se ver.
2- Esmagados pelo vento que habita cada uma das personagens, três indivíduos, vestidos de negro, seguram uma vela e procuram representar.
3- O primeiro dos que está vestido de negro caiu. Suspenso na corda de felicidade, balouça, resiste, sufocado pelo sonho.
4- (Acho que foi no palco que deixou de se ver.)
5- O terceiro. Bate palmas debaixo da nuvem em que se escondeu. Tem medo da rosa que lhe arrancou da mão o lugar do sangue.
(interregno - o carrocel leva a humanidade)
6- As mãos abrem-se em concha. Nas fissuras, o desenho de uma "Porta do Inferno" transformada numa porta do paraíso, ainda mais perfeita. A pedra move-se, demorada nas perguntas. Nus, descalços, agora brancos, em busca do movimento que lhes permite a libertação da rocha.
7- O breu, a pele, a coragem, impedida de passar para o outro lado do palco por dois braços que sobram do segundo corpo deitado no chão e que treme ao som das possibilidades infinitas da coragem desfeita.
8- Os três corpos voltam a encontrar-se. Correm em direcções opostas, provocando o caos, e/ou o levantamento da matéria.
9- O fim cabe dentro do palco que deixou de se ver.
10- Sentados no parapeito de uma janela que arde, numa imensidão vertiginosa de labaredas e soluços, três corpos misturados em fogo e água, condensam a morte e a vida num só.
11- A cinza que sobrou toma a forma de TAKK. *
* - Reportagem: Diana Tsir
Música: Takk, Sigur 'Rós (2005)