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segunda-feira, junho 26, 2006

resenha (história de um corpo que fala)


Um homem morre e fecha-se por dentro. Não tem mais nada a dizer. No entanto, dura para sempre.
Porque traz na boca um pincel com o qual escreve palavras numa zona de esfinges profícuas e, indeciso, é tudo isto, morto. Julga-se morto.
Porque tem o coração calcificado, depositado em muros existenciais, sobrenaturais, para tentar morrer depois mais depressa e, ao mesmo tempo, continuar a viver num espasmo dissoluto até que a verdade se consuma numa só ilusão de justiça nívea.
Porque a sua imaginação não é supérflua, excessiva, prendendo-se por isso nos cabelos por duas ou três razões de peso, alcoólicas, e este homem tem-nas, um pouco esburacadas pela finura do ensejo, mas discretas e persistentes.
E ainda porque lhe sobra sempre o nada para o nada, o nada controverso e insubstituível.
“A tua existência é universal. És uma mulher como outra qualquer mas trazes o perfume de todas as mulheres misturado. E isso é importante, conseguirmos ser tanto num só corpo, numa só alma”, diz. E o corpo imagina, desintegra-se, consome-se. Sobra a respiração, o vapor, o grito, crescendo por dentro a vontade que mortifica quando desiste certo da sua certeza, certo de que viver algemado, habituado não é viver. E por isso ele próprio se mistura com as tintas, com a esquizofrenia do raciocínio e o ciclo infinito do retorno, perdendo-se por entre a rebelião, contra a contigência das formas e das homenagens impossíveis.
“É preciso ir buscar mais parafusos para encher a minha cabeça. Recuso-me pensar que tenho a certeza de um nome e que não mo deixam usar. Eu escuto com a verdade. Vejo com o sonho. Pinto com os olhos e a certeza de que vou morrer. Por isso sou livre.”
Não morrerá ainda. Agora tem manchas na cara. A infância coube dentro de uma lata pontapeada pelo preconceito e pelo caminho do artista que sobe pelas telas e se magoa no chão do mundo. Mas este corpo que não pesa jamais. E ele sabe-o, já que o sonho tem só um nome: SAMO. Deus. Ele mesmo, ali, entre todos. “E por isso agora sou eu que falo e decido das coisas, porque sou eu e só eu quem fala e põe meio mundo a escavar a compreensão com as unhas - adeus SAMO. Adeus Samo.”
Por fim, é um objecto. O corpo, ele próprio, é o objecto, e um objecto tem sempre duas faces, duas possibilidades de existir: a de dentro e a de fora. E a de fora quer agora falar. Está finalmente a falar. Quererá dizer que procura uma denúncia completa e integral do seu estado inacabado? Do nosso? Porque não morreu ainda? Porque tem dúvidas sobre quando é que deve morrer? Quem decide isso? Quem poderá decidir?
Um homem morre e abre-se por fora. Afinal disse tudo o que tinha a dizer. Ou quase tudo.

sábado, junho 24, 2006

Country Herbert

Argumento primeiro:
"i have an exhaustion with the direction of the physical world. as a global population, we agree on what is wrong, but have developed paths that are entirely antithetical to the one to rectify that. the uk government talks about reducing its contribution to climate change, yet has no desire to limit the sales of private car ownership. apparently, the individual's right to drive is held as a higher priority than the universal human right to clear air. "
M. Herbert

sexta-feira, junho 23, 2006

Dark side of


"Não é esta justiceira somali quem perde, mesmo que saia derrotada desta baralha. É a Holanda. Deu um espectáculo deprimente e lamentável, de pequenez moral, de politiquice hipócrita, de desonra e cobardia. Parece mentira que no país onde Anne Franck padeceu seu martírio, ainda não tenha ficado claro que não se amansam os tigres atirando-lhes carne fresca e inocente e atirando-lhes beijos soprados: isto ,pelo contrário, aguça-lhes o apetite e afia-lhes as presas e as garras."

Mário Vargas Llosa a propósito da tomada de posição de Rita Verdonk, a ministra da imigração holandesa, relativamente ao caso de Ayaan Hirsi Ali.

Desalegria



Houve outrora os que falaram e os que choraram. Os que lutaram e os que pediram. Os que anunciaram e os que escutaram. Os que partiram e os que acenaram. E hoje, onde estão todos que não vejo ninguém?

segunda-feira, junho 12, 2006

Uma história (para outro dia)

Parto sem nada por dizer. O que tinha a dizer, foi dito em silêncio, sem medo do que os outros pudessem pensar ou ficar a saber. Porque amanhã não, não podia ser. Amanhã já seria tarde demais. E por ser tarde demais, tu não ficarias a saber.

domingo, junho 11, 2006

glósóli


O videoclip mais visto de sempre na história da EMI, premiado com o "best rock video". Faça-se justiça.

sexta-feira, junho 09, 2006

"What would you do
If you saw me driving by in a car
The quickest you’ve ever seen me spin?
Would you smile and wave
Or would you bow and get in?"
The GB

quarta-feira, junho 07, 2006

"precious like you"


Eles estão de volta...finalmente...

segunda-feira, junho 05, 2006


"If you're going to San Francisco, Be sure to wear some flowers in your hair."
S.M., 1967

sexta-feira, junho 02, 2006

Instante


- "Meus pés ansiosos..."
- "Minhas mãos estragadas..."
- "Meu caminho abandonado..."

A luz do dia reflectida na cor da noite e o encontro, por fim, com o pensamento do mundo.
"O céu estava limpo, a luz transparente e, contudo, tenaz, insistente, sentia desprender-se à minha volta um cheiro insípido, como se sob a sua película lustrosa todos estes instantes estivessem apodrecidos no coração: era o cheiro insípido da resignação."
S.B.