fábula (ensaio)
O teu dia debaixo do sol não raiou porque te prometeste à noite que ainda agora não sabes o que será. A chuva não entrou na terra porque te esqueceste que o chão era a conclusão do céu. Não encontraste o teu próprio rosto porque te serviste dele para seres tu no tempo. O teu milagre não foi espanto porque sucumbiste às leis da terra. Perguntam-te: o que sobra de ti no momento instante em que não és as palavras?
andamento segundo: exortação do silêncio
As palavras cresceram como ramos na tentação de ser o mundo, na tua porta. Abriste a janela que não viste, espreitaste por dentro das palavras que não conhecias. Viste um segredo que não querias ver. As palavras continuaram a crescer até que as vissem outros. Outros as viram como medo. Tu as viste como o derradeiro silêncio que houvera. Tu as recusaste. E escondeste-te e enterraste as palavras, a árvore, o dia, o mundo, tudo enterraste. A ti próprio também.
andamento terceiro: revelação do segredo
Não mais foi manhã nem noite. Sem as palavras, a noite de outra ordem e esfera. Dia, a festa rocambolesca do dia sem palavras e sem ti, enterrado debaixo ainda delas, em silêncio, portanto. A esfera e a ordem de nunca acometer contra ele, o silêncio. O segredo revelado sem palavras, nele próprio. O dia eterno sem as palavras. O mundo feliz sem palavras, em silêncio.
Etiquetas: ficções depois da génese
2 Comments:
Intenso e algo enigmático. Como muito daquilo que nos é profundo, e nos alvoroça positivamente!
Não "gostei", apenas. Gosto cada vez mais, a cada nova leitura!... um sorriso grato, para a autora..
Alvoraçar como a adivinhar o dia antes da noite. A intensidade estará em quem a sente e se faz de si nessa entensidade. Obrigada pelas palavras e pela visita. Um abraço.
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