império
o império. império de matéria ao sol e à lua, quando faz o dia e depois a noite. império e o excesso das coisas, as coisas todas, e as multidões a colidir repetindo-se e reproduzindo-se. a fantasia esquivando-se. os afectos fazendo a ligação entre eles que são só e vagueiam, e nunca a ficção desses caminhos como um só. o dia. só depois a realidade e os vidros partidos, os pés nesse caminho nenhum sem dor, a multidão. a noite. a dor outra vez da multidão. gentes quase multidão de pessoas que se misturam depois com o tempo. dele o sigilo. a madrugada. insuficiente a dor no estado original, os primórdios do silêncio inquieto e em forma de grito. a simulação da multidão na madrugada, ávida por se ansiar de uma outra, gente cheia de luz, cabisbaixa no deserto a adiantar-se no instante como objectos a ocupar clandestinamente o tempo, o tempo quase fausto, quase feliz, ou o que não acontece, ou o prodígio do tempo presente. voltam-se as faces e somem-se os corpos misturados com a vaga abstracção do vazio entre eles, a multidão. a manhã. estes e aqueles, entre a revelação da imprevista cumplicidade, a nudez. o silêncio dentro de tudo entre os corpos. o desafio. a missão, todos e o exercício final de uma ode acidental, ou o limite. o entretanto, nem manhã, nem noite, nem madrugada, e todos depois, excluídos. a luz da manhã, as formas misturando-se e o diálogo. a procedência, o princípio aleatório. a dúvida permanente do fundamento. o império.*
*.texto originalmente publicado em Oficina de Poesia - Revista da Palavra e da Imagem, nº11.
Etiquetas: coisas improváveis
1 Comments:
o tempo que existe alheio às gentes, ou as gentes que existem alheias ao tempo?...
que não se calem nunca teus dedos!..
um abraço
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