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domingo, outubro 19, 2008

história da manhã interminável


dead man lake, K.P.

também a g.o., o fazedor de histórias

a manhã quando estava a chegar entrou-me dentro do corpo primeiro para que eu a visse como a nunca tinha visto antes. disse-me que eu tinha que ver isto agora. eu vi-a e percebi que ela queria que eu a visse chegar para que ela não chegasse sozinha. depois percebi que ela queria que eu a visse chegar porque a manhã quando chega às coisas quer que elas comecem de novo e as coisas não querem começar nunca de novo nada porque estão fartas de caminhar e não querem começar tudo do princípio outra vez. mas nesse dia, a manhã estava já no corpo celeste da terra, a meio caminho quase a chegar e queria que começasse tudo de novo, como se ela também estivesse a chegar pela primeira vez. e com isto queria ser ela a primeira a chegar a todo o lado, ao mesmo tempo. eu expliquei-lhe que não era possível, que tinha que esperar para que a terra desse a volta para ela poder chegar a todo o lado mas ela não quis. não me explicou porquê porque me disse que era um segredo que eu nunca podia saber mas que não podia esperar para começar tudo de novo em todo o lado ao mesmo tempo. acedi mas disse-lhe que assim não a podia ajudar, porque não podia eu mudar a lógica que estava feita desde sempre. a manhã então pediu-me que a visse chegar ao mesmo tempo em todo o lado e que escrevesse a história dela para que um dia os homens soubessem que ela também tinha uma história, que era uma história grande, grande de interminável, e que ela não era só a que vinha para dar novas oportunidades às coisas e fazer nascer outras e deixar morrer outras ainda. disse-lhe que não podia escrever a história dela porque não ia viver o tempo suficiente para isso, mas que não me importava de começar e que alguém depois se encarregaria de a continuar quando eu não pudesse mais continuar. ela explicou-me que então agora eu iria ter que a ver chegar todas as manhãs e que era esse o meu destino daqui até ao dia em que a história dela passasse a ser escrita por outra pessoa. disse-me que eu e essa outra pessoa teríamos que ser a continuação uma da outra e por aí fora. e assim passou a manhã a entrar-me todas as manhã pelo corpo dentro. e quando ela chega fico suspensa entre o tempo dela e o meu e acordo no tempo das duas depois e começo a escrever a história dela, que é uma história como eu nunca escrevi nem ouvi nenhuma. e todas as manhãs tenho eu que contar a história dela. e a história é sempre quase igual. mas é sempre e cada vez mais bela. há dias em que custa muito escrever sobre ela de tão bela que é. há dias em que não a escrevo, conto só. conto com outras palavras que não as palavras das histórias. mas as pessoas a quem conto, sabem do que estou a falar. são as pessoas a quem a manhã pediu o mesmo. descobri ao fim de algum tempo que ela não me pediu só a mim para contar a história dela. porque é uma história interminável feita de palavras intermináveis e de pessoas intermináveis porque cada uma terá quem continue a sua depois. acho que esse foi o princípio que presidiu à continuidade dos seres humanos na Terra. é uma daquelas lógicas que eu tenho como uma lógica que está desde o princípio dos tempos mas que as pessoas se foram esquecendo entretanto. e na manhã quando ela está a chegar eu pensava que estava sozinha com ela mas aos poucos fui percebendo que essa profunda solidão de nós duas era afinal a profunda solidão das pessoas intermináveis que contam a história interminável da manhã interminável. e assim nos encontramos todas as manhãs que é como quem diz estamos sempre na manhã umas das outras. e são essas pessoas, pessoas que nunca conheci e outras que conheci e nunca mais vou ver e outras que ainda hei-de conhecer e outras que conheço já. e com estas, quando falamos estamos a contar a história da manhã por outras palavras porque essa história é maior que as outras todas e está sempre antes, ao mesmo tempo e durante as histórias que contamos entre nós. porque é o desígnio maior o da história da manhã interminável. e sempre que eu falo, estou a contar a história da manhã interminável. e nunca palavra minha mais será que não seja também da história da manhã interminável.

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2 Comments:

Blogger Luciana said...

Sempre tão único, o que fazes com as palavras, amiga…
Ainda bem que a manhã nos lembra que podemos começar outra e outra vez...
Ainda bem que temos a força de vontade para entender que cada uma delas é uma dádiva e uma constante oportunidade para sermos mais…
Ainda bem que acabamos por perceber que há mais pessoas que guardam o segredo... Ainda bem que afinal não estamos sozinhos na solidão e, por isso, o conceito se desconstrói...
Ainda bem q há amanhaceres suficientes na nossa vida para podermos também contar a nossa história!..

29 outubro, 2008 00:09  
Blogger Luciana said...

Sempre tão único, o que fazes com as palavras, amiga…
Ainda bem que a manhã nos lembra que podemos começar outra e outra vez...
Ainda bem que temos a força de vontade para entender que cada uma delas é uma dádiva e uma constante oportunidade para sermos mais…
Ainda bem que acabamos por perceber que há mais pessoas que guardam o segredo... Ainda bem que afinal não estamos sozinhos na solidão e, por isso, o conceito se desconstrói...
Ainda bem q há amanhaceres suficientes na nossa vida para podermos também contar a nossa história!..

29 outubro, 2008 00:15  

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