fragmento
Passou toda a tarde a ouvir a mesma música. No silêncio metódico da casa, as recordações transformavam-se em baladas oblíquas que lhe diziam o caminho de regresso a sua casa, longe, muito longe. Os pés e as mãos geladas aconchegavam-se nas malhas quentes enquanto lia frases dispersas aqui e ali de um qualquer romance recolhido da pilha da mesa de cabeceira. De repente, sentiu-se tentada a olhar pela janela, à procura que o olhar da rua lhe emprestasse a lucidez de que precisava para regressar ao planeta onde habitava. No entanto, as pernas não lhe responderam. Nem os braços, nem as mãos, nem o corpo. Adormecia num sono profundo, ao som de “fragment” de Max Richter.
Foto: Hersande Hudelot
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